Com a abertura de creches e jardins de infância, muitas são as questões que se têm levantado de como será feita a interação com as crianças nestes tempos.
As recomendações da DGS originaram algumas questões ao nível da funcionalidade mas existem outras que no meu entender ainda não foram mencionadas e assumem ser de extrema relevância.
Como irão reagir as crianças ao uso da máscara por parte dos seus educadores e auxiliares?
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É certo que no nosso dia a dia as crianças que já saíram com os seus pais depararam-se com o facto de muitas pessoas usarem máscaras, mas para algumas crianças, as máscaras podem ser assustadoras. Há crianças que têm medo de palhaços, de pessoas disfarçadas no carnaval, crianças que reagem mal a um rosto humano diferente. Um estudo levado a cabo na Harvard Medical School, conclui que até 1% das crianças poderá sofrer de “mascarofobia”, um medo que persiste por mais de seis meses, geralmente relacionado aos super-heróis, ou fantasias.
Temos por isso que nos lembrar que para muitas crianças ver os educadores a usar máscaras, aliado ao distanciamento social de familiares e amigos pode ser uma situação além de assustadora, causadora de tristeza.
Outro aspecto a ter em consideração nesta realidade é o facto de a criança em idade pré-escolar não possuir habilidades para reconhecer rostos. Segundo demonstram alguns estudos, somente a partir dos 6 anos de idade a criança começa a desenvolver essa habilidade, e apenas aos 14 anos de idade são atingidos os níveis de habilidade de adultos para reconhecer rostos.
Segundo Kang Lee, professor de psicologia aplicada e desenvolvimento humano da Universidade de Toronto, que estuda o desenvolvimento de habilidades de reconhecimento facial em crianças, crianças menores de 6 anos tendem a prestar atenção às características individuais, em vez de reconhecer a pessoa como um todo. "Por exemplo, eles prestam atenção ao tamanho do nariz ou no formato dos olhos."
Estudos em que as crianças foram convidadas a ver fotos nas quais os rostos estavam parcialmente bloqueados mostram que elas podem ter problemas para reconhecer até rostos familiares quando alguns desses recursos não eram totalmente visíveis. Assim, o uso de máscara ou demais formas de proteção poderão ter impacto significativo no desenvolvimento das crianças.
As crianças em idade pré-escolar tendem a aferir que quando a aparência de algo muda, a coisa em si mudou. Desta forma, quando estamos a usar máscaras junto de crianças é essencial que estas percebam que a pessoa é a mesma, e neste novo recomeço em que toda a equipa escolar estará com máscaras e outros EPI’s poderá ser muito complicado, pois as crianças poderão ter dificuldade em reconhecer os seus cuidadores o que poderá gerar situações de stress e angústia.
Ao colocarmos máscaras impossibilitamos as crianças de lerem sinais emocionais, o que é novamente perturbador e desconcertante. Portanto é importante que no regresso às creches e aos infantários, os pais expliquem muito bem aos filhos a importância e a necessidade do uso da mesma por parte da equipa educativa. Deverá existir ainda um especial cuidado nas crianças com distúrbio do espectro do autismo, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade e ansiedade social pois são mais vulneráveis a esta situação.
Harold Koplewicz, presidente do Child Mind Institute, disse: “Acho importante explicar às crianças que as pessoas estão a usar máscaras como uma maneira de ajudar os outros - caso contrário, elas assumem que é porque é perigoso. As crianças devem pensar nisto como um ato de responsabilidade social e poderá ser comparado à necessidade da lavagem das mãos, como algo que se faz para se manter seguro, mas também para ajudar a proteger os outros.” Faço aqui a ressalva do uso por parte de pais e educadores da leitura do Livro o Vírus Malvado, disponibilizado no Blog, e que ajudará a reforçar esta ideia.
Para minimizar os danos que esta situação poderá causar, os pais e educadores poderão transformar as máscaras mais divertidas, recorrendo a atividades artesanais ou jogos.
Com o regresso às creches e infantários sugiro que as escolas façam uma planificação das atividades semanais tendo sempre por base uma história infantil, ou uma banda desenhada.
Partindo desta base de planificação, todos os educadores e auxiliares poderiam usar máscaras enfeitadas com o tema dessa história. Alerto somente para o facto de não ser apologista do uso de viseiras neste contexto, considero que seria mais vantajoso o uso de óculos de proteção, pois minimizam o impacto visual e além do mais também é possível disfarçá-los.
No momento em que nos encontramos, uma boa forma de explicar às crianças a importância do uso da máscara é fazer com que entendam que todos podemos e devemos ser super-heróis e portanto, tal como estes, a nossa missão é proteger o outro e isso só é possível usando uma máscara.
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